sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Calçados

"-Pode-se dizer muito sobre uma pessoa por seus pes - refletiu - Há homens que entram aque sorridentes às gagarlhadas, de sapatos bem limpos e escovados e meias cheias de talco. Mas quando tiram os sapatos, os pés têm um cheiro pavoroso. São pessoas que escondem coisas. Têm segredos malcheirosos e procuram ocultá-los, assim como entam esconder os pés.
Virou-se para me olhar e prosseguiu:
-Mas nunca funciona. A única maneir de impedir que os pés cheirem mal é arejá-los um pouco. O mesmo pode ocorrer com os segredor. Disso eu não enendo, porém. Só entendo de calçados.
Começou a examinar o amontoado de coisas em sua bancada.
-Aguns desses rapazes da corte chegam abanando o rosto e reclamando de última tragédia. Mas têm pés todoso rosados e macios. Logo se vê que nunca foram a lugar nenhum sozinhos. Percebe-se que nunca foram realmente feridos.
Finalmente encontrou o que procurava e segurou um par de sapatos semelhantes ao que eu estava usando.
- Aqui estão. Estes eram do meu Jacob quando ele tinha a sua idade.
Sentou-se em seu banquinho e desatou os cadaçosdo par que estava em meus pés.
-Já você- prosseguiu - tem solas velhas para um mocinho tão jovem: cicatrizes, calos. Pés como esses poderiam correr descalços o dia inteiro sem precisar de sapatos. Só há um modo de um menino da sua idade ficar com os pés assim.
Levantou os olhos para me fitar, transformando a observação numa pergunta.
Assenti com a cabeça.
- E esses, como estão?
Levantei-me para testá-los. No mínimo eram ainda mais confortáveis do que o par mais novo, por estarem meio amaciados.
-Pois bem, este par é novo - disse o homem, balançando os sapatos que segurava. - Ainda não foi usado nem por dois quilômetros, e por sapatos novos como estes eu cobro um talento, talvez um talento e dois - informou. Apontou para meus pés - Esses aí, por outro lado, sãu usados, e não vendo sapatos usads.
Virou-me as costas e começou a arruamr a sua bancada meio ao acaso, cantarolando baixinho. Levei um segundo para reconhecer a canção: Saia da cidade, latoeiro.
Eu sabia que ele estava tentando me fazer um favor e, poucos dias antes, teria ficado radiante com a oportunidade de ganahr sapatos de graça. Mas, por alguma razão, aquilo não me pareceu correto. Recolhi minhas coisas em silêncio e deixei um par de iotas de cobre em seu banquinho antes de sair.
Por quê? Porque o orgulho é uma coisa estranha, e porque a generosidade merece ser retribuida com generosidade. Mas foi sobretudo por me parecer a coisa certa, e essa é uma razão suficiente" O nome do vento, A crônica do Matador d Rei: Primeiro dia

2 comentários:

  1. Ah, isso me lembrou seus pais falando sobre como reconhecer uma pessoa pelos sapatos e jóias...
    =)

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  2. oUHAuoauOHAUHO sério?
    Não me lembro deles falando de algo assim

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