domingo, 29 de novembro de 2009

Prisão invisível

Coisas em descompasso sempre dão errado, e muito.
Por exemplo, em uma estrada, se um carro está a uma velocidade,
e do nada muda, ele sai do ritmo de todos os carros que estão a sua volta, a final,
está tudo ligado, a direção e velocidade de cada veiculo naquele lugar. Qual o resultado?
Carros batidos, lataria amassada, vidro quebrado, pessoas feridas, quando não mortas.
Vemos isso em um jogo de futebol por exemplo. Digamos que um jogador chuta a bola muito forte, o que deveria recebe-la não conseguirá alcansá-la, isso abre espaço para um rebote que pode custar um gol para o time desses jogadores.
O mesmo acontece com as relações entre as pessoas,
se uma delas está mais acelerada que a outra, nada dará certo.
Com certeza vai dar alguma bosta.
O que é pior, como num acidente de carro que o moto quase sempre sai ileso e o passageiro ou o pedestre é quem fica tetraplégico ou morre, há sempre quem se machuca enquanto o outro fica no mar de rosas, satisfeito com a vida que tem.
Um belo dia desses, um sábio japonês falou para uma pequena menina "Na minha opinião, aquele que tanto amas não te corresponde igualmente, para ele basta que não fujas dele, e com ele sempre estejes." Com certeza isso deixou-a insegura e pensativa, mas como seu amado sempre a tratava bem, com muito carinho e amor, falava coisas que confortava tanto seu coração, não ligou tanto para as palavras do sábio. Mas com o passar do dia, notou que aquela pessoa pela qual tinha tanta estima não ligava tanto para ela, e que apenas a tratava bem quando estava junto dela. A gota d`agua foi quando, esperando alguma notícia de seu querido, após ser ignorada tres vezes, ele liga para ela. Ao atender, a felicidade foi iminente e incontestável. Mas tudo isso que a levou para o céu de um instante para outro, sumiu, deixando-a cair no duro e frio chão, o que fez ela quebrar a cara. Ele ligou apenas para perguntar sobre o treino de arco-e-flecha que ia ter para preparar o povo daquela cidade para uma guerra quase que iminente, não se preocupou em saber como ela estava nem nada. Ficou tão triste que nem lágrimas conseguiram sair de seus olhos. E para o guerreiro, nada aconteceu, nada. Decidiu então parar de ligar para aquele soldado que a fazia sofrer tanto e repensar sobre o principe da cidade vizinha, e aliada, antes que ela desmonorasse por uma pequena pedra que lhe foi atirada.
Sim queridos leitores, essa história ilustra muito bem como o descompasso pode acabar com as pessoas: não é como se o soldado não gostasse da pequena, mas ela gostava muito mais dele, o que acabou machucando-a:ela sofre por causa de um amor semi-correspondido. Um absurdo, concordo. Antes falava-se sobre amores não correspondidos que acabavam com a alegria de muitas pessoas, agora trato aqui sobre um tipo diferente de amor, aquele que é desigual. Talvez esse seja o tipo mais cruel, isso porque ele torna aquele que ama mais escravo de seus sentimentos ao mesmo tempo que dá chibatadas nele. É uma prisão que, apesar de não ser fechado ou trancado, faz seus prisioneiros sofrerem e ao mesmo tempo faz com que eles n consigam sair de lá, como se tivesse uma barreira invisível os segurando, uma corrente pesada, chamada amor. Do mesmo material da corrente é feito o chicote que rasga as costas desses tristes escravos. Escravos tristes, condenados. É estar acorrentado a uma parede de um lugar pegando fogo, mas não conseguir colocar a chave, que está na sua mão, no cadeado. É estar impotente. É como um pequeno metalzinho tentar escapar de um imã gigante, é tentar pular até o universo estando na Terra.
Se você cair nessa prisão traiçoeira, tome todas as providências para que consiga sair o quanto antes, porque ela é como um labirinto, quanto mais adentro, mais dificil de achar a saida. E, ninguém poderá condena-lo por querer sair dessa situação mais lastimável, não há ninguém que realmente já amou que nunca se perdeu nessa prisão carrasca e que não saiba como é ruim tal situação e como é bom poder sair dela. Por esse motivo, podemos utilizar qualquer artifício, mesmo se for pedir para aquele principe da cidade vizinha quebrar as paredes desse labirinto para te achar, matar os capangas que te chicoteiam, estraçalhar as correntes que te prendem e seu sangue tiram. Nunca devemos nos esquecer também daquela força que o chamado "amor próprio" tem que nos dar, mas ele é um bem tão precioso, ma tão precioso que está muito bem guardado, e é dificílimo usa-lo nessas situações.
Por que essa prisão é tão dificil de sair e nos lastima tanto? Porque é muito difícil desistir de uma pessoa, de um sentimento, de um desejo. É por causa dela que sempre ouvimos "Porque gosto daquele canalha?", "Porque insisto em ficar com aquela mina?", "Por que tenho que amar tanto alguem que não me ama?", "Por que?". E isso, exausta qualquer alma.
Porque é um querer falar que ama, mas ao mesmo tempo um medo de sentir aquela amarga resposta falsa. Ficar com aquela ânsia, e ela não passar. É querer falar, mas querer ficar em silencio; é estar com dor no estômago, mas não sentir fome; é querer chorar, mas não sair lágrimas; é querer dormir, mas ficar com insônia; é querer cagar, mas não sair nada no trono.

É como estar morrendo sufocada e não conseguir nadar até a superfície, por estar tão fundo nesse abismo aterrador do mar da solidão. Queria conseguir sair dessa, de verdade.

O pior do sentimento semi-correspondido é que ele engana mais que o amor não correspondido.

Aulas de história.
No Brasil, durante a escravidão, os trabalhadores não eram assalariados, mal tratados, dependentes de seus donos. Mas eles n eram iludidos, tinham noção de sua triste realidade, e por isso sempre tentavam fugir, montavam quilombos. Mas isso era muito ruim para os donos, não porque eles gostarem de seus escravos, mas por eles serem úteis, sempre estarem ali, e fazer tudo que seus mestres queriam. Tendo em vista o perigo que corriem de perder os escravos, os donos passaram a ser empregadores, os escravos passaram a ser assalariados. Com esse novo sistema, os revoltosos escravos viraram os iludidos assalariados. Felizes com o pouco que ganhavam, satisfeitos com a nova realidade não tão melhor do que a anterior, os novos trabalhadores pararam de se revoltar, nada melhor para os empregadores: empregadores com seus necessários trabalhadores, e os pequenos iludidos presos em sua falsa realidade.

Situações da vida.
No comments, right? Um fragmento da ilusão



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